A volta do jeans cintura baixa e porque quando é minha vez de ser adulto tá tudo mais difícil
Lara Matos, estudante de Jornalismo. Reprodução: Arquivo pessoal. |
O ano era 2008. Eu assistia algum filme da Barbie na televisão, provavelmente A Princesa e a Plebeia (o *melhor* filme do universo cinematográfico da Barbie). Minha mãe estava do meu lado com um fio de nylon na mão enquanto eu segurava o outro lado e ela colocava as miçangas. Esse era um ritual comum em nossa casa, eu era obcecada por pulseiras, anéis e colares feitos de miçanga e todo mês uma nova leva de bijuterias eram confeccionadas por nós duas. Aqueles fios cheios de flores, quadradinhos e todas as formas possíveis, eram o que eu considerava o ápice da moda, acompanhados de uma bota, claro. E essa era a realidade não só para garotinhas de 8 anos como eu, mas para jovens até os seus 20 anos. Os anos 2000 foram uma época de minissaias, blusas tomara que caia, óculos extravagantes e rosa, muito rosa. É claro que para falar sobre os anos 2000 os jeans de cintura baixa não podem ser deixados de fora. Sendo sincera, essa parte da moda dessa época não é a minha favorita, mas assim como um antropólogo não julga a cultura de um povo, também não julgarei o jeans que só funciona se você estiver em pé.
2022, 14 anos após a minha fase de miçangas e roupas da Lilica Ripilica, a moda dos anos 2000 está tão forte quanto naquela época. Vestidos por cima de calças, bijuterias divertidas, sobreposições de peças, tudo isso está de volta, com uma roupagem mais inclusiva, mas ainda assim, y2k é tendência do momento. Acho que alguns se surpreenderam com a volta “repentina” dessa moda, mas se a história se repete, por que a moda seria diferente? Os historiadores desse meio chamam essa repetição de “ciclo dos 20 anos”, que teoriza que a moda de duas décadas atrás volta a ser atraente para os jovens da geração atual. Mas a nostalgia por tempos em que as vestimentas eram diferentes não se resume somente a esse quesito, sentir saudades de um tempo mais simples e sem tantas preocupações é também parte da psique dos jovens adultos. Eu me pergunto se a obsessão da geração Z pelos anos 2000 também não é uma escapatória para uma época da vida em que pensávamos que ser adulto seria como nas revistas, com glamour e brilho. Mas esse pensamento não é uma exclusividade da geração Z, é como o meme: “ser adulto é como andar de bicicleta. Exceto que a bicicleta está em chamas. Você está em chamas. Tudo está em chamas. E você está no inferno.” Então, querer voltar para seus dias de miçanga e filmes da Barbie só pode ser descrito como natural. (eu espero)
Quando conheci a Lara meu primeiro pensamento foi “uau, que estilosa”, ela parecia ser uma daquelas mulheres nas revistas em que eu recortava as roupas e guardava numa pasta para ficar olhando depois. Mas a Lara não é tão diferente assim de mim (exceto pelas roupas incríveis e o gosto impecável), nossas mães gostam de Laura Pausini, nós duas nascemos no ano 2000 e ambas fomos influenciadas pela moda dessa época.
“Uma memória da minha infância que tenho mais clara é da Capricho. De pesquisar em revista ou comprar nas revistas e ir seguindo os looks que eu achava legal. Na época ainda que não tinha site, que eu não tinha computador nem nada, e eu não podia ir na lan house, era pela revista mesmo, eu cortava as revistas e ia montando as minhas inspirações. Gostava muito de fazer colagens, então eu usava as revistas para fazer isso, eu amava aqueles testes assim de “qual é seu estilo” de acordo com alguma famosa. E eu me lembro muito que eu queria ser a Demi Lovato. Era uma referência para mim.”
A Lara já mostrava ser apaixonada por moda desde pequena. Reprodução: Arquivo pessoal. |
Eu não sei vocês, mas a Lara descreveu a minha infância inteira assim que começou a me explicar os ícones da moda de quando ela era criança. Acho que se inspirar na Demi Lovato ou na Selena Gomez era quase obrigatório naquela época. A Lara hoje mora em Teresina, é jornalista, trabalha com redes sociais e ouso dizer que é uma influenciadora. Eu, pelo menos, sou bastante influenciada pelo conteúdo que ela posta. Acho que se fosse comprar a Lara a uma Barbie (e eu vou, porque O filme tá chegando aí), ela seria a Barbie em Moda e Magia. Com um estilo influenciado pelos anos 2000, mas totalmente único, ela é o exemplo perfeito de uma geração que volta as suas “raízes” quando se trata de roupas. Como ela mesmo diz: “A moda sempre volta, de um jeito ou de outro a gente tenta retornar algo, modificando ou utilizando de uma outra forma, mas é tipo aquela coisa, ‘nada se cria, tudo se copia’.”
E que melhor jeito de descrever não só a moda, mas o ritual que todo jovem passa ao se tornar adulto. As configurações são diferentes, mas o medo e a incerteza ao entrar na “vida de gente grande” são os mesmos. A Lara me contou algo interessante e que talvez aqueles com mais de 30 se sintam um pouco injustiçados, mas é verdade para aqueles que acompanharam a verdadeira ascensão da internet. “De certa maneira eu acho que era mais fácil (ser adulto), porque com o passar do tempo a gente vai adquirindo novos problemas. Por exemplo: eles não tinham que lidar com a crise existencial promovida pela internet.”
“Que me mandassem cartinha de hate, mas que não me mandassem mil tweets ou que me cancelassem na internet.”
Se isso não é verdade, eu não sei o que é. Nada disso quer dizer que ser adulto só foi difícil para nós, o autor do livro “The Prime Of Life”, Steven Mintz, diz que há “um mito de que a transição para a vida adulta foi mais tranquila e suave no passado”, e eu concordo. Ter que se conformar com as ideias de sucesso e do que configura ser um adulto em qualquer época, seja nos anos 50 ou em 1990, sempre foi trabalhoso. Mas quando as pressões da sociedade chegam a você de forma muito mais rápida e te diz de mil formas diferentes que aos 21 anos você já deveria estar fora da casa dos seus pais e com uma fortuna no banco, é quase impossível não surtar. Ser adulta hoje é uma mistura de ter milhões de oportunidades e ficar sobrecarregada com tudo.
“É clichê falar que só temos o hoje? É clichê. Mas é a realidade”, diz Lara com ar de quem sabe o que é pensar demais sobre o futuro. “Ser adulta é totalmente difícil. É difícil ser tudo, sempre é difícil o hoje.” Parece até pessimismo falar assim, mas Lara não faz soar como uma coisa ruim. A verdade é que nossos problemas de hoje sempre serão um problema de hoje e não há como fugir disso, mas é só o que a gente tem. Lidar com as dificuldades do jeito que a gente acha certo é o melhor que podemos fazer. E ser adulto não é isso?
“O ser adulto para mim é sempre o ‘depois’. É o meu eu do futuro. Eu estou no presente, mas não estou percebendo que já sou uma adulta. É só ser uma criança mais independente, de certa forma, mas altamente dependente do trabalho, dos estudos, do dinheiro para pagar as contas, de um casamento, de uma vida financeira boa, de uma vida social boa. Ser adulto antes pra mim era uma coisa tipo ‘uau, vou caminhar com minhas próprias pernas’, e agora eu vejo que é ‘nossa, eu tenho que realmente caminhar com minhas próprias pernas’.”
Caminhar com as próprias pernas aos 21 anos é tão difícil quanto caminhar com as próprias pernas pela primeira vez. Mas, como um bebê cambaleante, a gente leva a vida e vai levando uns tombos até os passos ficarem mais firmes e só precisar de uma ajudinha aqui e ali. A gente se veste divertido, canta músicas da Hannah Montana, começa a abraçar a cor rosa (meninas que queriam ser “diferente” levantem a mão), e ao mesmo tempo enfrenta filas de banco e tenta fazer um salário mínimo durar um mês inteiro. Ser adulto é isso!
(é isso mesmo né, gente? Por favor, me diz que eu tô sendo adulta do jeito certo!)
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