Sobre filmes de terror e cardigans cor de rosa

 Diferente das minhas colegas, eu nunca gostei de filmes de terror. Lembro de ter uns 10 anos de idade e estar na sala de casa, um sábado à noite, na companhia de minhas primas adolescentes assistindo (ou gritando e chorando de medo) a algum filme com serial killers. Ver sangue e violência eram de mais pra mim. Após inúmeros pesadelos de perseguição e levar isso para terapia, minha reação histérica ao sangue melhorou um pouco e posso afirmar confiantemente que continuo não gostando de filmes de terror. Minha imaginação é tão perspicaz que até suponho que um pedaço de plástico bolha viajando pelo meu quarto por conta do vento pode ser passos de algum invasor que jamais seria convidado a habitar minha casa. 

Laurie Strode em Halloween (1978)

As referências visuais da internet e as conversas com Kálita e Dhara foram capazes de me mostrar algo que minha memória não recordou: que certas sobreviventes e heroínas de filmes de terror são mulheres. Carol J. Clover, no livro “Men, Women and Chainsaws: Gender in the Modern Horror Film”, destacou como as final girls – termo designado para a última sobrevivente de assassinatos em série nos filmes de terror slasher – de meados dos anos 80 apresentam traços de pureza, são boas meninas, não consomem bebidas alcóolicas ou drogas e possuem aquela expressão de medo constante. 

Desde o início do século, a mulher é retratada em diversos filmes como frágil, alguém que deveria ser poupada. Poupada da força física, poupada de grandes aspirações e poupada de frequentar determinados lugares. Esperava-se que seu comportamento fosse contido, seus desejos, puritanos e suas saias, longas. Nas produções cinematográficas de terror, mesmo que a protagonista feminina ocupasse o lugar de heroína, tendo que vencer o assassino e retomar a aparente segurança da comunidade, ela não estava tão longe do seu habitual lugar de fragilidade. 

Tal como o cenário, os efeitos sonoros e a fotografia são pensados para comunicar suspense, as roupas e adornos não tem o fim exclusivo de enfeitar. Eles carregam significado. As peças são como palavras, que juntas se transformam em texto e são capazes de transmitir qualquer mensagem. 

Alguns desses símbolos já foram fixados em nosso entendimento de modo que o associamos rapidamente a algo, como os apetrechos essenciais da mocinha: o relógio, porque ela é responsável com suas obrigações e nunca se atrasa. O suéter em tons pastel, porque ela é doce. E um corte de cabelo ou penteado com franja numa tentativa de infantilizar sua imagem. 

E reitero que não há problema algum nesses acessórios ou em ser pontual, gentil e querer usar franja. Mas associar isso à fragilidade, sim.

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