Esse ano eu serei a pior versão de mim
Isso é uma mentira. Gostaria de dizer que esse ano eu simplesmente serei egoísta, fútil, alienada e sem um pingo de medo, mas não é a verdade. Ainda assim, eu aprecio aqueles que se comprometem ao ato. Talvez alguns pensem, “mas por que ser a sua pior versão seria algo bom?”, e para isso eu tenho a resposta. Nem sempre a nossa melhor versão nos satisfaz, nem sempre o seu “eu” que todo mundo ama te serve, nem sempre o que você apresenta ao mundo te faz bem. Ser a sua pior versão é muitas vezes ter o controle de volta, é acessar uma parte sua que você sente vergonha e explorá-la, conhece-la, ser amiga dela, mesmo que por um curto período de tempo. Não quero que interpretem isso como uma desculpa para ser simplesmente cruel, mas quando é que você se permite agir como realmente quer? Quem é que ganha quando você é versão polida de si mesma?
O tempo todo eu vejo pessoas obcecadas em mostrarem pro mundo o quão produtivas são, o quanto elas são caridosas, o quanto são organizadas, o quanto amam se exercitar, o quanto checar cada caixinha que diz “você é uma pessoa boa e bem sucedida” é satisfatório para eles. E meus parabéns, sinceramente, isso é ótimo. Só que tem vezes que isso não é o bastante. Eu sempre me orgulhei de ser educada e fácil de conviver, mas até onde isso me serviu? Quantas vezes eu não fui vista como passiva e fácil de controlar? Eu queria ser a pior versão de mim e finalmente experimentar um pouco de liberdade. Eu queria por uma vez que fosse, sentir que fiz algo sem pensar em tudo o que pode dar errado. Talvez a minha pior versão só seja eu mesma.
Mas eu me distrai e fugi do que realmente queria falar. Ano Novo, isso. Pergutinha rápida: já comprou seu planner desse ano? Já planejou entrar na academia no dia primeiro de janeiro? Já prometeu deixar aquele hábito que só te faz mal, mas que te persegue? Talvez suas promessas não tenham sido essas, talvez suas metas são bem maiores e mais importantes, mas por enquanto vamos focar na maldição que é o primeiro dia do ano. Novos começos, novas chances, novas oportunidades (escrevo isso com expressão enojada).
Vou ser honesta, não será o dia primeiro de janeiro que vai de repente te dar motivação ou prover algum milagre. No final das contas quando chega meia-noite você ainda é você. E não esperem que no final disso eu diga “só você é responsável pela sua mudança e blá blá blá”. O que quero dizer é: não espere que esse começo de ano irá ditar seu ano ou vida inteira, você passou a vida toda sendo quem é e de repente espera que os problemas se resolvam e você se transforme? Desculpa, mas não é assim que acontece. E não há necessidade de ficar triste com isso. É claro que você pode ficar triste com isso, se eu tenho algum objetivo é fazer você perceber que você tem o direito de ser e sentir qualquer coisa. Você não precisa ser mais magra, você não precisa ser mais bonita, você não precisa estar sempre em seu melhor momento e quando chega janeiro você não precisa se abater com a pressão de se encaixar onde não há espaço para você. A sua vida não vai recomeçar, é só mais um ano e você escolhe se e quando uma mudança é necessária. Já é um novo ano e eu não tenho ideia do que estou fazendo, abraçar essa insegurança e incerteza talvez seja minha única opção.Como disse antes, ser a sua pior
versão talvez seja uma meta mais realista e satisfatória. Não estou falando
para se transformar em algo que não é, ao invés de sucumbir ao canto de sereia
que te fala que você não é o suficiente você possa se agarrar a âncora velha e
enferrujada que ninguém quer ver. A âncora velha e enferrujada são suas partes
mais feias e estranhas, não se ficou claro, mas enfim. Eu sei que não serei a
pior versão de mim esse ano, ou pelo menos até uma parte dele, porém vou tentar
não ser a minha melhor versão também. Nossa existência não é uma competição.
Achar conforto em si mesmo, seja qual versão escolher ser, acho que essa é uma
meta boa.
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