Em defesa da garota adolescente
(Just A Girl do No Doubt tocando no fundo)
Quando ela se veste com traços mais “masculinos” ela é estranha, quando se inclina para a hiperfeminilidade ela é estúpida, suas músicas são bobas, as bandas que ela gosta são vergonhosas, os livros que ela lê são péssimos. Ser uma garota adolescente nunca é certo.
Talvez seja por isso que sinto falta de ser uma garota adolescente. Há algo libertador quando nada do que você faz parece agradar. Dito isso, eu nunca fui muito “rebelde”, porém fazia coisas de garota adolescente, e mesmo com todas as angústias e vergonha alheia, era divertido. Explorar um novo mundo, conhecer coisas que meu eu criança não tinha interesse, descobrir meus gostos e ser fã de mil coisas ao mesmo tempo.
É verdade que mudei muito desde os meus 13 anos, mas se não tivesse passado por aquela fase, não sei quem eu seria hoje, e até que gosto do que me tornei. A Kálita de 13 anos, assim como muitas outras garotas da mesma idade naquela época, conheceu Lana Del Rey e se apaixonou pela melancolia e estética que ela proporcionava. Hoje eu já nem a escuto mais e reconheço o quão problemática ela é, mas não posso negar que ter escutado Blue Jeans mudou minha vida. Meu eu de 13 anos também era obcecada por One Direction e ter sido fã deles foi essencial para meu crescimento. Vai me dizer que ficar vendo vídeos da época de The X-Factor, ler milhões de fanfics, e cantar Gotta Be You para todo mundo ouvir não é extremamente importante para o amadurecimento de uma garota adolescente?
E por falar em fanfics, eu preciso dizer que me arrependo de ter parado de ler aquelas obras-primas. Até mesmo as muito ruins. E acredite, se você nunca leu fanfic, há ATROCIDADES escritas no Wattpad, AO3 e Spirit Fanfic (eu usava mais esse). Me arrependo porque fanfics são feitas se não exclusivamente, mas a maioria, por garotas adolescentes. E deixa eu te dizer algo, GAROTAS ADOLESCENTES SABEM EXATAMENTE O QUE VOCÊ QUER LER. Aqui eu abro um adendo para dizer que eu não aprovo garotas adolescentes escrevendo e lendo coisas que elas não deveriam saber até pelo menos os seus 17 anos.
O tipo de aflição, anseio e sofrimento escrito por uma garota adolescente é incomparável. E sabe porquê? As garotas adolescentes sabem o que é ser indesejada, o que é querer algo e nunca conseguir, o que é nunca se encaixar. As inseguranças da adolescência não são exclusivas às meninas e nem à adolescência, e longe de mim querer reviver essas inseguranças, mas sinto que anseio por algo que só pode ser encontrado naqueles anos.
Talvez eu só queira chegar para a Kálita de 2014 e dizer que tudo bem ser um pouco cringe. Que daqui uns anos ser cringe vai ser meu lema, porque não tem sentido em se importar com o que os outros vão achar sobre o que gosto. Mas que acima de tudo, não precisa sentir vergonha em existir.
Tem um poema da Olivia Gatwood em que ela diz que todos somos garotas adolescentes e que, mesmo que muitos as odeiem, todos compartilhamos de sentimentos que garotas adolescentes sentem. Há um perigo em ser uma garota adolescente, porque ser uma garota adolescente é ser vulnerável em voz alta e as pessoas odeiam a vulnerabilidade, acham que ser vulnerável é sinal de fraqueza.
Ser uma garota adolescente é estar ebulindo e se queimar, é rir alto nos ônibus, é revirar os olhos para tudo que incomoda, é chorar num minuto e dançar no outro, é expor suas partes boas e ruins, porque você não tem muito controle sobre o que vai ser revelado. Ser uma garota adolescente é tentar se esconder também, é tentar se misturar e ficar com raiva por não ser notada, é não saber o que fazer com a infância que ainda está tão perto e ter medo de ser adulta. Mas, quer saber? Garotas adolescentes sobrevivem, eu sobrevivi, minhas amigas sobreviveram.
Ser uma garota adolescente é ser forte (todo mundo se contorce de vergonha alheia).
Ser garota adolescente é escrever esse texto e ter medo de publicar, mas publicar mesmo assim e brigar com qualquer um que queira me envergonhar.
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