Espelho, espelho meu

Era por volta de 2012, ano em que uma garotinha de 13 anos, deitada na cama, folheando as páginas de uma revista, sonhava com o dia em que ela teria um corpo magro (e esbelto) tal qual o das revistas teen da época. Com essa vontade havia uma frustação: olhar-se no espelho e ver dobrinhas na barriga, tão distante daqueles corpos dos editoriais. Essa garota tem um nome específico, mas certamente várias outras de nomes distintos ansiavam pela mesma coisa. Nesse ínterim de 2005 a 2015, o que mais se via nas páginas de revistas femininas para adolescentes eram jovens com seus 55 cm de cintura, 49 cm de coxa e 87 cm de quadril, cabelos lisos e dourados e olhos claros.  

Desde a ascensão do corpo magro, por volta de 1960, até hoje, são imagens assim que prevalecem nas revistas femininas. Com isso, pode-se afirmar que essa característica encontra-se como um padrão de beleza historicamente demarcado. Bem sabemos que o que se vê nas revistas controla, até certo ponto, nossos desejos de consumo, e quando digo consumo não falo exclusivamente daquilo que se compra com moeda, mas o que invade o subconsciente e se configura como algo necessário na vida, algo cuja experiência seja indispensável. 

O doutor em Design pela PUC-Rio, João Dalla Rosa Júnior, em um estudo sobre Imagem e Moda, diz que a imagem nas revistas, tanto visível quanto invisível, “assume uma importância, pois sinaliza estratégias de dominação que são materializadas por tecnologias de controle”. Que é o mesmo que dizer aquele que aparece e aquele que não aparece se conectam no sentido de quem manda e quem não manda em algo. Esse algo pode ser nosso dinheiro ou até mesmo a forma como nos sentimos com relação a nosso próprio corpo. 

Aquela garotinha não tinha tanta noção de dominado e dominante, mas sabia que as garotas na revista tinham um poder: a de ser digna de estar alí. E a maioria das meninas dignas de ocuparem os editoriais tinha uma fisionomia predominante: branca, cabelos lisos, nariz empinado.  

Pouco mais de dez anos depois vemos uma mudança significativa. Não sei ao certo a origem, mas nesse período instalou-se uma filosofia de amor-próprio bastante benéfica para nós. Tirar um tempo para nos cuidarmos e começar a perceber nossas peculiaridades com mais carrinho me parece algo apropriado. Essa onda de amor-próprio também atingiu o mercado – é claro –, com isso temos bem mais visibilidade para diferentes corpos. Muito mais representatividade em não somente revistas, mas passarelas, campanhas publicitárias. Meninas pretas e plus size ocupando até mesmo todo o espaço de um editorial. Não acredito e nem quero que esse seja o estopim, mas o meio de uma realidade para nós todas. 

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