O que One Direction e Estilhaça-me têm em comum
Que One Direction escrevia músicas sobre homens patéticos e apaixonados, todo mundo sabe, né? Mas eu só vim perceber isso cerca de um mês atrás, durante uma conversa com a Kálita.
Naquele dia, eu também fiz uma playlist que mudou a minha vida (que você pode ouvir aqui), mas não é sobre isso que eu quero falar nesse texto.
Em uma quinta-feira qualquer, eu cheguei do trabalho e resolvi que estava com vontade de rever os filmes da trilogia Jogos Vorazes. Não sei bem o que me acometeu, mas sei que tinha um pingo de nostalgia de viver com o nariz enfiado em livros de distopias para adolescentes. Abri o bom e velho Amazon Prime e comecei a maratona que eu só ia terminar no domingo.
Não bastasse rever Jogos Vorazes, coloquei o último livro lançado da saga na minha listinha de leituras e resolvi que era uma boa hora para reler a série Estilhaça-me. Uau, Dhara, uma viagem muito nostálgica!
Se você não conhece, me deixe te apresentar: Estilhaça-me é uma série que começou como uma trilogia, mas teve um sucesso tão grande entre os leitores que a autora Tahereh Mafi teve que estender a história por seis livros. Por isso, você pode ter a sensação de que a cada livro o universo da série se expande mais e mais, e a história só fica mais complicada.
Eu tenho uma coisa com séries literárias onde você cresce junto com o personagem, na minha adolescência tive a companhia de muitos amigos literários assim. Percy Jackson, Artemis Fowl, Will Treaty, os irmãos Pevensie, os irmãos Baudelaire, esses são só alguns dos personagens que me ensinaram a amar os livros. Estilhaça-me não é diferente. Acho que eu tinha uns 14 ou 15 anos quando li pela primeira vez. Eu era boba, tão boba quanto a protagonista do livro, Juliette Ferrars, que se apaixona pelo primeiro cara que consegue tocar nela. Não vou contar muito do plot, caso um dia você resolva ler esse clássico moderno da ficção juvenil, mas basta dizer que a Juju fica com um cara no primeiro livro, termina com ele no segundo e encontra o amor da vida dela no terceiro. Tudo isso aos 17 anos de idade.
Enfim, outra quinta-feira qualquer, eis que estou lavando uma louça ouvindo a já citada playlist “oned for the girlies” e começo a fazer ligações entre as letras das músicas e as dinâmicas de ship em Estilhaça-me.
Adam Kent, o primeiro interesse amoroso da Juju, era um babaca que só enxergava ela como uma menina fraquinha e indefesa que precisava ser protegida. Tudo bem que os dois tinham muitos traumas, muitos mesmos (nem vou comentar porque você vai ter que ler pra saber), mas o Adam era um CHATO. E é por isso que eu dedico a ele a música mais patética de todas: Strong, do álbum Midnight Memories.
Strong tem que ser uma das minhas músicas favoritas da 1D. Foi trilha sonora para muitas das minhas desilusões românticas de adolescente, mas nem por isso ela deixa de ser patética. Digo, é fofo e tal essa história de “o amor nos faz mais fortes”, “sou melhor porque estou com você”, mas isso de “quando não estou com você, eu sou fraco”, sei não, me parece dependência emocional. Coisa que a Juliette com certeza tinha com o Adam nos dois primeiros livros da série.
Mas vamos ao que importa: Aaron Warner, segundo e último interesse romântico da Juju. O Warner é tudo que podemos esperar em um protagonista de ficção juvenil: falso vilão, incompreendido, gostoso, lindo, loiro, inteligente, gentil só com quem importa… Resumindo, ele é perfeito! Não é à toa que foi escrito por uma mulher.
E todas as músicas da playlist se aplicam ao Warner em algum momento da história, porque ele é morto de apaixonado pela Juliette e se torna um cara patético quando se trata dela.
Loved You First é bem a cara dele no primeiro livro, quando todo mundo ainda acha que o Warner é um psicopata, e ele é louco pela Juju, mas ela namora o Adam. Consigo até imaginá-lo andando pelo setor 45, com cara de bravo mas sofrendo com essa nos fones.
One Thing também é sobre ele. A Juliette fazia o coitado ficar fraco das pernas, sem conseguir respirar, e ela nem imaginava!
E Happily, quando eles finalmente começam a se pegar de verdade, e a Juliette termina com o Adam, e todos os amigos dela ficam achando ela uma louca porque “Alô? É do comandante do setor 45 que estamos falando! O cara que tentou te usar como um experimento e que quase matou o seu ex-namorado!”. Mas a Juliette está toda “I can fix him” das ideias.
Essa viagem pelos caminhos da memória relendo Estilhaça-me e ouvindo One Direction me deixou meio triste ao lembrar que hoje em dia as meninas adolescentes leem livros de romance para jovens adultos (e até dark romance, coisas que elas definitivamente não deveriam estar lendo), com bastante sexo explícito e homens tão perfeitos que são ainda mais impossíveis de existir na vida real. Elas também preferem escutar uns bate-panelas que dizem "Wanna send my code to you, 8 letters is all it takes”, ao invés de músicas patéticas sobre homens apaixonados que dizem “Whenever you kiss him, I’m breaking. Oh, how I wish that was me”.
Continuamos crescendo iludidas em busca do tal “homem perfeito”, a diferença é que agora o homem perfeito não fica sofrendo de amores pela gente. E isso é Muito Errado.
Acordem, garotas! Eles estão escrevendo músicas dizendo que nós estamos doidas para ficar com eles! Nós precisamos trazer os homens patéticos e apaixonados de volta.
Não vou nem comentar sobre como os caras hoje em dia têm uma dificuldade absurda de mostrar interesse, muito menos tratam a gente como se fossemos pessoas merecedoras de coisas boas.
Não é fácil gostar de homem, como dizem os jovens. Acho que por isso as redes sociais vêm presenciando um boom muito grande das contas que ensinam meninas a se portar em encontros, como fingir ser bela, recatada e do lar, e como se importar apenas com o aspecto financeiro do cara que você tá pegando (Sprinkle Sprinkle!).
Ainda não encontrei um tutorial definitivo de como achar um homem que preste, mas quando eu encontrar pode ter certeza que vou compartilhar com a 21. De preferência um que ensine a encontrar um cara patético e apaixonado, do jeitinho que o diabo gosta.
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